A ideia de abordar a posição litotômica e instruir as gestantes a respeito de seus direitos de escolha quanto à posição para o parto surgiu a partir da leitura de uma reportagem brilhante escrita pela jornalista Vanessa Barbara, intitulada “De cócoras no paí da cesárea”, publicada na edição de maio da Revista Piauí. Os conceitos explorados nessa matéria são todos inspirados na reportagem original, que pode ser encontrada em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/de-cocoras-no-pais-da-cesarea/
A posição litotômica recebe esse nome em função de um antigo procedimento médico chamado “litotomia”, que consistia na extração, sem anestesia, de cálculos no trato urinário. O paciente submetido a essa operação era mantido nu da cintura para baixo e deitado de costas com as pernas flexionadas e afastadas em suportes. Segundo a jornalista, a posição litotômica “é também conhecida como posição ginecológica ou posição do frango assado: a paciente fica em decúbito dorsal, com as pernas afastadas e erguidas em estribos, enquanto o médico examina a área, sentado em um banquinho”.
De acordo com a pesquisa Nascer, realizada em 2012 pela Fundação Oswaldo Cruz, 91,7% dos partos vaginais no Brasil foram realizados nesta posição. Contudo, sabe-se que essa não é uma boa posição para o parto, nem para a mãe, nem para o bebê, visto que dificulta a ação da gravidade, prejudica a descida e encaixe do bebê, reduz a amplitude da bacia e o diâmetro pélvico, aumenta o risco de compressão sobre a aorta e a veia cava, reduz o fluxo de sangue enviado para o útero e pode afetar a oxigenação fetal.
Diversas pesquisas realizadas em todo o mundo apontam os benefícios das posições “verticais”, nas quais a mulher fica sentada, ajoelhada ou de cócoras. Esse tipo de posição promove um parto mais rápido, com duração menor do período expulsivo, menor utilização de fórceps e redução nas taxas de episiotomia (aquele corte do períneo para “facilitar a passagem”). As posições verticais também promovem maior mobilidade do sacro (osso triangular no final da coluna), aumentando o diâmetro de saída da pélvis, o que facilita a expulsão do bebê.
Além da posição litotômica ser prejudicial para a mãe e o bebê, Vanessa também aborda o caráter humilhante dessa postura: “A mulher se sente impotente, passiva e exposta. Não há motivos para ser tão utilizada, senão por tradição e conveniência da equipe médica. Não há motivos para ser considerada a única opção disponível”.
Ter um parto “humanizado”, expressão tão em voga ultimamente, significa não apenas ser livre para escolher sua via de parto, mas também ter a liberdade de escolher a posição em que se quer parir. A recomendação da Organização Mundial de Saúde nesse sentido é que a mulher seja encorajada a permanecer na posição em que se sentir mais confortável, estando livre para caminhar e se movimentar da maneira como desejar.
Portanto, se você está grávida e planejando seu parto, imagine como deseja vivenciar esse momento e escolha uma equipe de saúde que realmente conduza partos humanizados, sejam eles vaginais ou cesarianos. Pesquise bem antes de escolher seu obstetra para ver se ele faz o tipo de parto que você deseja. Troque ideias com amigas que já tiveram bebês e pergunte como foram seus partos. Realizar um pré-natal psicológico também é uma ótima opção para você conhecer seus direitos, dissipar seus medos e ansiedades a respeito da gestação e do parto e se preparar para o puerpério e para a chegada do bebê.
Autora: Carolina Aita Flores, psicóloga perinatal
Texto inspirado em “De cócoras no país da cesárea: como é difícil ter um parto normal no Brasil”, da jornalista Vanessa Barbara. Matéria publicada na revista Piauí, nº 152, ano 13, maio de 2019.
Créditos da imagem: Carolina Horita/Bebê.com.br